Larissa da Costa Corrêa, 16 anos, pais separados há 8.
Há 8 anos meus pais se separaram. Naquela segunda - feira, eu chorei muito, mesmo porque foi meu pai quem me deu a notícia pelo telefone da casa do vovô. Lembro que fazia exercícios de matemática. Minha mãe não sabia como agir, então fui na casa da minha avó e ela me dizia que isso era normal, e citava como exemplo ela e o pai dos meus tios e, também, como seria diferente pra mim e que eu não deveria me preocupar com aquilo, já que era assunto dos dois.
No dia seguinte, terça - feira, na 3ª série, cheguei falando pras minhas amigas que na noite anterior meus pais haviam se separado. Era mês do meu aniversário. Sete dias depois.
Eles tinham uma pizzaria minha mãe trabalhava fora e à noite ia fazer pizza, e meu pai só ficava por conta disso. Com a separação, meu pai foi trabalhar em outras coisas e minha mãe ficou presa à pizzaria e ao trabalho, todos tentavam ajudar, mas chegou a um ponto que não dava mais pra conciliar tudo.
No dia 22 de maio de 2003, mudamos pra Juiz de Fora, e eu fiquei sabendo disso dias antes, no dia das mães. Quando chegamos lá, outro ambiente, mas logo na primeira noite, descobri que tinha um padrasto e naquele mesmo momento ele saiu com a minha mãe e fiquei sem ela pela 1ª vez. E isso se repetia sempre. Até que depois de 2 anos, não morávamos mais só nós duas. Agora não residíamos mais num apartamento confortável num bairro luxuoso. Estávamos no centro da cidade, em frente a linha do trem, com casa "projetada", com um homem, e um bebê na barriga...dela. Depois que esse bebê nasceu, no dia 24 de Fevereiro de 2005, descobri o amor. Eu nunca fui de me expressar, antes por vergonha, depois por viver sozinha, já que minha mãe trabalhava o dia inteiro, tendo dias que nem a via. Em 2006, mamãe pegou minhas folhas de desabafos e tirou suas próprias conclusões. Dizia que eu era infeliz, que eu era ruim, que não gostava dele, um homem que só queria meu bem (e tomar lugar do meu pai). A única coisa que me fez odiá-lo por tempos, foi ele dizer que meu pai não prestava e ele estava ali pra mim. COMO ASSIM? Nesse mesmo ano, DOIS MIL E SEIS, repeti o último ano no colégio, vivia de mentiras, perdi valores jamais recuperados, fui denominada irresponsável...com 12-13 anos.
Em 2008, vim morar com meu pai no RJ, mas não era com ele. Eu falava com ela no telefone quase todos os dias, e batia saudade...dela e da Gigi. Meu pai chorou no telefone. Revoltei a família voltando pra Juiz de Fora. Tudo foi flores nos primeiros meses. Depois "não queria nada". Em 2009, estudava, trabalhava - contra minha vontade - e malhava a noite. Não gostava de trabalhar, não pelo trabalho, mas porque me impedia de seguir o que pretendo, e me cansava, e me estressava e, com 15 anos, é o que a pessoa menos precisa: responsabilidades de um adulto. Mas ninguém me deixava largar o trabalho. Aos 16, fui expulsa de casa, chamada de cobra, covarde, tudo por não concordar com ela. Bebi a primeira vez, bebi a segunda, a terceira, quarta, quinta...Até no dia do aniversário dela. Nesse ano ganhei outro precioso no dia 28 de Março. No início desse ano, voltei pro RJ, pra estudar. Não voltei por raiva como da outra vez. De lá pra cá, no meu caminho, apareceram ofertas incontáveis de drogas, de namorados, de vidas vazias. Mas minha responsabilidade falava mais alto. Apareceram também, paixões, uma delas INACABÁVEL, INDESTRUTÍVEL.
Na noite retrasada sonhei que havia morrido, ninguém me via, quando era só alma. Só que eu não tinha percebido. Queria falar pra minha mãe que a amava. Na hora que cheguei na frente dela, ela não me viu, eu falei, mas ela não ouviu. Eu tentava ligar, mas morto não liga. Eu tentava escrever, mas morto não escreve. E fiquei com aquilo ali. Com aquele "eu te amo" engasgado. Com aquele "eu te amo" que ninguém ouvia. Com aquele "eu te amo" que não podia ser de mais ninguém a não ser dela. Acordei assustada. Mas fui covarde. Não liguei. Não tive coragem.
Mãe, EU TE AMO, minhas mudanças não modificam o meu amor por você. Nossos obstáculos não impedem do nosso amor acontecer. EU TE AMO, mãe. Você é a minha melhor amiga, mesmo que indiretamente.
- E os olhos afogados.
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